sábado, 2 de outubro de 2010

Capitulos da História da Varzea

"A HISTÓRIA CHEGA A CAVALO

Num dos últimos dias de dezembro de 1954 um grupo de camponeses atravessou a Avenida Caxangá, no Recife, para um encontro com a História.
Eles não sabiam disso.
A pessoa com quem iriam encontrar, também não.
Não havia nenhum indício, nada que mostrasse que aquele dia, aquelas pessoas, aquele encontro, pudessem ter algo de especial.
O que havia era o de sempre: o calor, que nos jornais da década de 50 muitas vezes era chamado de “infernal”, e um grupo de camponeses vítimas de injustiças, fato que nem merecia a atenção dos jornais.
Os camponeses estavam em uma carroça puxada a cavalo. Em dias anteriores já haviam batido em várias portas, em busca de ajuda, sem nada conseguir. Alguém lhes dera um nome e um endereço. Era para lá que estavam rumando. Talvez não fossem bem recebidos. Talvez tudo não passasse, mais uma vez, de uma esperança frustrada.
Talvez tivessem que voltar para casa sabendo que, na luta em que estavam envolvidos, não poderiam contar com ninguém além deles.
Talvez até estivessem pensando numa dessas coisas quando chegaram a uma rua lateral que dá acesso ao bairro da Várzea e encontraram o endereço que procuravam. Rua Cruz Macedo, 99. Era um casarão em estilo colonial, rodeado de plantas e fruteiras, parecendo um sítio.
Do grupo faziam parte camponeses cujos nomes depois iriam aparecer na Imprensa e nos livros: Zezé da Galiléia, Manuel Severino, Amaro do Capim e o irmão, que se comportava como o líder, José Ayres dos Prazeres, um sujeito alto, de discurso fácil, concatenado. Entraram na casa. Prazeres carregava um monte de papéis debaixo do braço, amarrados por um cordão barato. Adiantou-se e viu dois homens sentados, um deles lendo jornal.
– O que é que você quer? – indagou o que estava sem ler. O tom era firme, mas não agressivo. Naquela casa entrava muita gente à procura de auxílio. Todos estavam acostumados à presença de estranhos.
– Preciso falar com o deputado – respondeu José dos Prazeres.
– Eu sou o deputado – disse o que estava com o jornal.
Era Francisco Julião.
E desse encontro, escondido num subúrbio recifense, teve início o que um autor especializado no assunto classificaria de “o capítulo mais importante da história contemporânea do campesinato brasileiro”."
SANTIAGO, Vandeck. FRANCISCO JULIÃO Luta Paixão e Morte de um Agitador. Recife, Assembleia Legislativa de Pernambuco, 2001.

Um comentário:

  1. É com muito orgulho e satisfação que leio essa história!. Pois Faço parte dessa ilustre família ARRUDA da qual Francisco Julião é um exemplo de dedicação às causas camponesas.
    Patrícia Arruda

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