sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Um olhar sobre o Campo do Banco

Sem guichê, caixa eletrônico, fila ou estrato e também sem banco de reservas ou alambrado. As margens do campo são como uma extensão do bairro, não há sublevação da vida ordinária e prosaica de todo o dia, a bola rola e quica no chão batido de barro da várzea da Várzea como se fosse um carteiro andando ou um coroa vendendo algodão doce.
Nesse retângulo de massapé com alguns tufos de grama a reivindicar a sua existência, batem pelada doze meninos, ou melhor, onze, pois, há uma menina na brincadeira. Com uma bola dente de leite com um “canarinho” desenhado nela eles jogam apenas com metade do campo e através da barrinha.
A única preocupação deles nesse fim de tarde de suor, palavrão e gols é da bola cair na casa de dona Tonha cuia de Papa, a alcunha é oriunda não de sua calvície, antes fosse, mas sim dela ser o terror das bolas que caem dentro de sua casa que fica quase defronte a uma das traves do campo, com sua faca ela abre à gorduchinha ao meio como se fosse uma melancia oca, branca e de plástico e joga as duas bandas da antiga esfera no campo, pela semelhança com aquele adereço que o Papa usa em sua moleira lha veio o apelido, algumas vezes após esse ritual ludicocida os meninos põem cada cuia dessa na cabeça e saem pelas ruas do bairro como para aliviar a perca da esfericidade perdida.
Catota conhecido pelos seus bicudos, tentou acertar um em Sapuia que estava praticamente se deitando na barrinha para ninguém furar o gol em seu time, porém, por esses ventos e caprichos da má sorte a bola foi cair na praça de São Pedro de gume amolado. O momento foi de expectativa e tensão, a bola tinha sido uma vaquinha do grupo, e estava quase nova, entretanto, a Providência por esses turnos do destino e da menopausa intercedeu a favor da Canarinho em detrimento da Tramontina, e a pelota foi restituída aos seus séquitos e volta ao mundo telúrico ao passo que o sol mergulha no extremo céu vermelho do Ocidente.

(Renato Silva)

2 comentários:

  1. Putz Renato, esse texto me fez lembrar de uma dona "tonha" que morava bem em frente do campinho do vale do senhor... ela ficava com tanta raiva que eu as vezes pensava que ela tinha rasgado a bola com a boca hehehehe... Flw Renato, texto muito bacana, lembranças de seu velho amigo Neto Baixinho.

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  2. A crônica, nas palavras de Carpienjar, é o banal iluminado. E você fez isso como ninguém nesse texto. Parabéns! Abraço fuerte! Rosano

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