sábado, 24 de outubro de 2009

Relação Ensino, Pesquisa e Extensão

O processo político-pedagógico da universidade, como uma instituição educadora, supõe a reafirmação de seu compromisso com a sociedade; pois sua finalidade não está em si mesma. Trata-se, ao contrário, de uma dinâmica continuada potencializada na medida em que desencadeia e reforça uma percepção crítica da realidade. Para tal, requer formas criativas de interferência no real assim como um processo contínuo de aprendizagem que promova e retroalimente as relações entre a comunidade acadêmica e o contexto social na qual está imersa, fomentando o intercâmbio de saberes e práticas, por meio da implementação de projetos e atividades que tenham como fio condutores a articulação ensino, pesquisa e extensão. Tal modelização - calcada numa perspectiva mais totalizadora da universidade – expressa, ao mesmo tempo, a preocupação com as contradições, com a desigualdade social e a necessidade fundamental de conceber cenários mais justos, inclusivos e éticos, nesses tempos de globalização. Mesmo levando em consideração questões nacionais e internacionais atreladas a sérios problemas socioeconômicos e à lógica de mercado, a articulação ensino-pesquisa-extensão ganha força na medida que se abre e respeita as potencialidades e saberes do Outro, reconhecendo a existência de múltiplas lógicas e múltiplas racionalidades. A referida abertura pode transformar projetos em ações concretas mantendo as contraposições e a auto-crítica da cultura institucional, deflagradas por projetos e demais ações que clamam por uma sociedade mais justa e expressam a indignação e perplexidade de um tipo de universidade que possui responsabilidade educativa. No final, o que se pretende é formar profissionais que relacionem competência teórico-metodológica com cidadania; que sejam mais críticos, solidários e éticos; conscientes da provisoriedade, incertezas e incompletudes de sua formação. Nesse sentido, a ciência - entendida como “estandarte de resistência” - se historiciza e assume seu papel de intencionalidade, tendo como bases epistemológicas a criatividade, a emancipação social e individual, que subjazem à articulação ensino, pesquisa e extensão, contribuindo para aproximar e mediar diferentes repertórios de saberes e práticas.

O Pontes de Cultura

Apresentação:

O Projeto de Extensão Pontes de Cultura é uma iniciativa do Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros (NASEB/UFPE), com financiamento do SESu/MEC e da PROEXT/UFPE, cujo objetivo é reiterar o compromisso político-ético-social da Universidade pública com a sociedade brasileira, apostando na extensão como uma "atividade acadêmica articulada com o ensino e a pesquisa com a intenção de promover uma relação transformadora entre a Universidade e a Sociedade”, conforme definido pela PROEXT/UFPE. Desse modo, o Pontes de Cultura procura contribuir com a formação acadêmica dos alunos, através de uma visão ampliada do fazer científico, aprofundando o diálogo entre os saberes produzidos pela Universidade Federal de Pernambuco e os produzidos pelas periferias do Recife e Região Metropolitana (com foco no bairro da Várzea), dando a ver a vida sócio-cultural da comunidade da Várzea como forma de possibilitar alternativas de inclusão para os jovens que ai residem, por meio dos empreendimentos culturais autogestionados existentes no local. Dessa forma, tenciona-se desencadear uma efetiva troca de saberes entre a comunidade da Várzea e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na perspectiva de uma universidade que se abre para acolher o Outro e respeitar a diversidade.

Justificativa:

Construído na relação entre a universidade e a comunidade da Várzea, o Pontes de Cultura é uma tentativa de socializar e estimular a reflexão crítica sobre quais os sentidos subjacentes aos mundos culturais das periferias do Recife e Região Metropolitana. Utilizando Maturana como guia cognitivo, poderíamos entender os empreendimentos culturais auto-gestionados da Várzea como focos de resistência que apostam na importância fundamental do coletivo, como possibilidade de garantir a sobrevivência da espécie homo sapiens sapiens demens. Numa perspectiva hologramática, tais experiências de economia da cultura podem constituir uma teia de estratégias fomentada sob a égide de uma lógica comprometida com valores mais solidários e mais fraternos. Não há registros da quantidade desse tipo de experiências desenvolvidas no Grande Recife, as informações são poucas. O que se sabe/ se sente é uma intensa pulsação que faz irromper novos projetos, como o Coco Zé Lasca a Vara, o Boi Teimoso, Maracatu Várzea do Capibaribe e o Urso da Língua Mole, conforme se observa no bairro da Várzea, próximo a Universidade Federal de Pernambuco. Mas, se por um lado, esses mundos culturais periféricos teimam em resistir à crueldade do mundo (Morin), promovendo – a seu modo – uma espécie de inclusão social forçada, por outro lado ainda continuam vivendo em condições precárias, distantes que estão do país oficial (Machado de Assis), pois não têm acesso às políticas públicas de cultura, educação, saúde, habitação, entre outras.

O caráter de extensão do Pontes de Cultura não se explicita apenas por meio de alguns serviços à comunidade, pois entende-se que a universidade – como uma instituição educadora – só é um meio na medida em que promove a educação, ou seja, na medida em que está a serviço de um projeto mais amplo de sociedade, comprometido com um ideário de justiça, cidadania, tolerância e fraternização.

Nesse âmbito, o saber da ciência é um patrimônio cultural, um bem coletivo. Sua contribuição ultrapassa o desenvolvimento de tecnologias. Como patrimônio cultural, a ciência deve contribuir para a compreensão do mundo, fomentando o exercício constante da reflexão crítica sobre a sociedade na qual está inserida e sobre seus processos de exclusão; sendo capaz de gerar um conhecimento que saia do ambiente acadêmico e se dissemine na sociedade.

Talvez uma das maiores contribuições do Pontes de Cultura seja de nos fazer compreender a importância de vislumbrarmos o Outro, conhecê-lo melhor, de aceitá-lo “como legítimo Outro na convivência” (Maturana); enfim, de acalentar a esperança de que é possível criar com o Outro um planeta melhor. Perceber as ações extensionistas como expressões da atividade acadêmica significa investir na direção de uma scienza nueva (Vico) ou de uma ciência reencantada (Prigogine), aquela que pressupõe a construção de novas relações sociais, que acredita na inconclusão do ser humano, que entende como fundamental a manutenção de diferentes sistemas de conhecimento com os quais se dispõe a dialogar. Afinal, os saberes e os ventos conversam entre si, diria o engenheiro e poeta Joaquim Cardoso. Trata-se, pois, de uma ciência distante de um possível epistemicídio, na medida em que se recusa peremptoriamente a matar outros saberes. A idéia do Pontes de Cultura é contribuir para a formação acadêmica dos alunos, através de uma visão ampliada do fazer científico, que objetiva a construção de um conhecimento na direção do imbricamento entre a cultura das humanidades e a cultura científica. Nessa perspectiva, partilhar a ciência é abrir a universidade para acolher o Outro, respeitar a diversidade. A pretensão do projeto é, antes de tudo, dar a ver a vida sócio-cultural da comunidade da Várzea como forma de possibilitar alternativas de inclusão para os jovens que ai residem, através de atividades artísticas, tais como: música, cinema, dança, teatro, literatura e artes plásticas. Convém ressaltar que tal importância atribuída à arte expressa a idéia de Claude Lévi-Strauss, segundo a qual, a arte seria a única perda insubstituível para o conhecimento do humano.

Objetivos:

Geral:
Contribuir para aprofundar o diálogo entre os saberes produzidos pela Universidade Federal de Pernambuco e os produzidos pelas periferias do Recife e Região Metropolitana (com foco no bairro da Várzea), desencadeando uma efetiva troca de saberes e abrindo espaço para maior inserção da universidade na vida cultural do Recife e Região Metropolitana, por meio de novos projetos de extensão que primam pela indissociabilidade teoria-prática, e revalorizam as ações extensionistas como parte da formação universitária, cultivando no estudante o compromisso e a responsividade com o “outro”.
Específicos:
• Organizar eventos no intuito de dar a ver os empreendimentos culturais da Várzea, e de promover a reflexão crítica sobre estas experiências, pensando-as em termos de suas bases, fundamentos, efeitos e possibilidades; • Fazer um levantamento das demandas da comunidade assim como dos serviços/programas existentes na UFPE que podem atender tais demandas;
• Fazer um levantamento das demandas dos integrantes da Equipe Executora assim como dos saberes/atividades existentes na comunidade que podem atender tais demandas;
• Contribuir para a formação do corpo discente através da ampliação do campo de diálogo entre teoria e prática; • Facilitar o acesso aos saberes produzidos pela UFPE e aos saberes dos mundos culturais das periferias;
• Registrar os saberes construídos no âmbito do diálogo entre a UFPE e os mundos culturais das periferias do Recife e Região Metropolitana.

Dinâmica do Projeto:

O Pontes de Cultura utiliza como suporte para as suas atividades diárias de mobilização e articulação no bairro da Várzea, os empreendimentos culturais já existentes no local, que buscam a promoção da inclusão social de jovens por meio de expressões artísticas. A partir das ações extensionistas junto aos referidos empreendimentos culturais, é construída uma agenda de eventos mensais que se alternam entre o Campus universitário e o bairro que lhe circunda, cultivando a participação da comunidade e da academia. Para garantir essa agenda, é realizado semanalmente um encontro entre a Equipe Executora e os participantes dos empreendimentos culturais do bairro. O Rodas de Diálogo são encontros multifuncionais, envolvendo as necessidades de articulação, planejamento, organização, avaliação contínua da ação extensionista e tratamento de questões focais identificadas no dia-a-dia da comunidade. Desses encontros é tirada a agenda de eventos a serem realizados em função das modalidades estabelecidas no projeto:

No Campus:
• Oficinas de arte - deverão ser oferecidas por integrantes dos empreendimentos culturais da Várzea, procurando criar vínculos entre estes e a comunidade acadêmica.
• Mesas redondas – sessões destinadas à discussão sobre aspectos relevantes da realidade da periferia recifense e seus universos culturais, nas quais se promove o encontro entre o saber especialista e o saber difuso.
• Espetáculos artísticos - deverão ser produzidos pelos integrantes dos empreendimentos culturais da Várzea, procurando dar visibilidade às experiências desenvolvidas ali.

No Bairro:
• Vídeo-debate - utiliza-se aqui, o cinema como mediador de uma reflexão sobre a experiência local e as questões mais amplas que marcam as sociedades contemporâneas.
• Espetáculos artísticos - a produção dos espetáculos na própria comunidade, nos quais participam os empreendimentos locais e convidados externos, visa promover a articulação entre os vários grupos culturais do Recife e Região Metropolitana, e corresponde ao princípio de dar visibilidade a comunidade da Várzea.
• Oficinas de capacitação - estas oficinas serão oferecidas por convidados que podem colaborar em áreas estratégicas da produção cultural e visam transferir para os integrantes do empreendimentos culturais os mecanismos necessários para o fortalecimento de tais empreendimentos.

Tendo como pólo aglutinador os referidos eventos, a idéia é proceder um levantamento das demandas dos integrantes da comunidade, tentando viabilizar o atendimento por meio dos serviços/programas existentes na UFPE. A expectativa é construir, a partir da troca de saberes, soluções e encaminhamentos que contribuam para a melhoria da UFPE e da economia cultural da Várzea, redirecionando e fomentando serviços, políticas, ações, estratégias, parcerias, entre outras, através: 1) da prestação de serviços à comunidade na qual o projeto está inserido, contando com o apoio – para isso – de programas existentes na UFPE (em educação, saúde, informática, entre outros), conforme as demandas locais; 2) da participação de integrantes da Equipe Executora do Pontes de Cultura nas atividades culturais da Várzea e de promover a reflexão crítica sobre estas experiências, pensando-as em termos de suas bases, fundamentos, efeitos e possibilidades; 3) e do estímulo a novos empreendimentos culturais na comunidade. Com isso espera-se desencadear uma efetiva troca de saberes entre a Várzea e a Universidade Federal de Pernambuco, construindo um canal permanente de diálogo entre ambos, e abrindo espaço para maior inserção da universidade na vida cultural do Recife e Região Metropolitana, por meio de novos projetos de extensão, que revalorizam as ações extensionistas como parte da formação universitária que cultiva no estudante o compromisso e a responsividade com o “outro” e prima pela indissociabilidade teoria-prática.